Os dois lados da carta I




E no recando do papel estava escrito: eu te amo.

Isso nunca me soaria tão mal,não tão mal quanto naquele dia.

Minha mente ficou conturbada de tantas lembranças. Já recapitulei mais de mil vez aquele dia. Pobre dia. O dia em que eu vi ela, só, perto do canteiro da Av. Treze. Com seu cigarro e seu vinho barato, sempre como esboço, lendo o livro que a dei. O cântigo dos cântigos.

Meu amor também morreu quando ela se foi. Quando o eu que nela estava se foi.

Não consigo ler o resto da pequena carta dela. As lagrimas borraram tudo.

Bebo um pouco mais wiske, lendo a parte que ainda ficou legivel, a parte que mais me maltratava.

Como as palavras entravam em minha cabeça.

Ele partiu dizendo que me ama e que era pro meu próprio bem.

Ela partiu sorrindo. E eu fiquei chorando.

Sinto o cheiro dela ainda. Imagino a sua boca, o seu cabelo, o seu dessimo e descidido olhar. O olhar que penetrou minha alma em plena quinta-feira.

Na carta dizia que ela iria para o Rio. É, o Rio. Lugar bastante tenso. Foi para o Rio por não me suportar e nem suportar mais o frio daqui de Porto Alegre.

Sinto que agora tenho um enorme motivo para deixar a minha marca. Deixar minha mente paira sobre o esplendor desse meu jardim artificial. Queimar meu reino. Ser marcado pela loucura sandala. Morrer de forma esplenderosa. Ou não.

Esse meu desepero por vê-lá ir, torna minhas vontades incrédulas.

Levanto. Vou ao banheiro lavar o rosto, esperando que fique mais calmo. Olho para o espelho e vejo meus olhos. Olhos vermelhos com lagrimas as marges, querendo sair. Como se tudo fosse mudar a sua partida de mim. Elas pedem por liberdade. E eu temo por deixa-las ir.

Dou adeus as minhas verdades. Dou adeus a minha doce vida. E apartir de hoje, dessa terça-feira, fria. Eu não existirie mais para ninguem. Serei a fenix maior. Serei do tamanho dessa dor.

Vou até a sala. Pego novamente a carta e leio-a.

Nenhuma gota de minha fortaleza de lagrimas veio a cair. E dessa vez um suspiro de otimismo veio junto também. Pois, no recanto daquela carta, ainda estava escrito: eu te amo.

(Bruno Rodrigues)

Comentários

  1. Lindo! Desculpe não dar mais adjetivos a esse conto, mas é que as palavras me faltam de tão profundo que ficou... Parabéns meu querido.

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  2. Nossa amei!
    muito bom o jeito com que usa as palavras, espero que tenha a segunda parte :D

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